Era agradecida pela imaginação... e pela ilusão de que tudo tende sempre a melhorar. Sem temer os riscos do tempo, pela primeira vez se viu prisioneira de seu egoísmo de seguir o instinto de poder mudar.
Mudou os costumes, as saias rodadas, o cabelo partido ao meio; já cantarola músicas de outros povos e sua risada para os desconhecidos está ligeiramente forçada... o que antes saia ao natural.
A solidão nunca foi seu medo, agora menos... o fracasso de suas escolhas sim era seu maior temor. E a cada dia, um sim ou um não vinha com mais peso. Uma decisão a essa altura poderia mudar tudo, em mais de uma vida, quem sabe dezenas... Por isso pensava mais! A cautela talvez tenha mudado uma de suas maiores qualidades, a espontaneidade de assumir grandes riscos.
Não tinha tanta idade, mas se sentia como tal... e não pelas rugas.
No pessoal, tinha a maravilhosa e irritante sensação do inacabado, interrupto, sem sentido... mas intenso. Às vezes se arrependia, mas logo passava. Sempre fez o que quis e o seguia fazendo (com cautela). Assim como se apaixonava, logo passava... e os que fizeram sentido ficam por mais tempo, talvez anos... tendo ou não motivos para isso, até se tornarem lembranças cada vez menos constantes.
Nas longas noites costumava fazer tudo que desse tempo... ler, escrever, responder e-mails, ver filmes, fazer chá com adoçante... sim, este hábito também era novo, o adoçante - Nas reuniões de trabalho costumava tomar café, dependendo da piscada de olho para a senhora sorridente que servia. Se fosse dia pesado, já era previsto: açucar (como um troféu de merecimento)!
Sentiu por mais de uma vez que estava na profissão certa e que não podia fazer outra coisa. Quando isso mudava, sentia que o outro não era, mas este sim... e assim seguia iludida que estava fazendo sempre o ideal. Mas o presente é seu melhor momento! Encontrou seu caminho e não pretende mudar (como não pretendia antes).
Suas noites pareciam durar mais que os dias e isso lhe dava prazer... cortar este costume era como se arrancassem a parte mais importante do seu dia: a noite. E era aí que os pensamentos apareciam, que a poeira baixava, que sentia orgulho ou raiva de ser como é. O som da tevê ou rádio nao a incomodavam, do relógio sim!! Que insistia em tocar pelas manhãs...
Boa noite!!
A volta dos que não foram.
Hace 6 años